domingo, maio 11, 2008

O Tempo e a Verdade

Verdade é um saber que, devido à convicção, achamos irrefutável. Todos a procuram, acabando por conceber a sua ou adoptar como sua a verdade de outrem.

O desejo de conhecer a Verdade tornou-se no principal fundamento da humanidade à medida que toma consciência de si própria, isto é, se vai individualizando da Natureza.

A humanidade, enquanto parte integrante da Natureza, sem consciência do todo harmonioso e interactivo de que fazia parte, o Tempo não existia, não havia verdades a saber, a inconsciência da sua existência, diluía-se no Todo Natural.

Com aquilo a que chamamos evolução, a humanidade atingiu o seu primeiro e maior estágio evolutivo ao reconhecer a sua própria existência. Deixar de fazer parte inconsciente do Todo, para se individualizar dele e, consciente de si própria, tornar-se-lhe exterior.

Assim, a evolução é a manifestação de um egoísmo em relação à Natureza, que leva a não se considerar parte integrante, e como tal, superior.

A separação do homem da Natureza, tem como consequência primeira a criação do Tempo. Passou do intemporal para o temporal.

Na Natureza a noção de Tempo não existe, a “existência” é intemporal, sem princípio nem fim, somente as mutações constantes são a sua própria essência. Na Natureza “nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma”, nenhum fim ou princípio está presente, só a mutação.

Com a humanidade, apesar da sua pertença individualização em relação à Natureza, acontece o mesmo, a essência que a rege, o ADN, não desaparece, prossegue a sua existência passando de hospedeiro para hospedeiro.

A Natureza é um Todo incriado, como tal nada pode ser acrescentado nem nada lhe pode ser retirado. Ela interage com ela própria.

A criação do Tempo acontece quando a humanidade ao reconhecer a sua existência, adquire a noção do nascimento, da vida e da morte, as primeiras etapas da cronometragem do tempo. Estas são as suas primeiras verdades.

Verdades temporais, que nada têm a haver com a Verdade intemporal, inatingível pela temporalidade.

Uma existência individualizada da Natureza, sem Tempo, é impossível, pois ele é a sua definição. Imaginar uma existência sem Tempo, era imaginar conhecer a Natureza e a Natureza só ela se conhece a si própria.

Acantonada no sensitivo, o mesmo que dizer no temporal, a humanidade nunca poderá ter consciência do todo em que está inserida, a sua individualização origina a criação.


O cognoscível fundamenta-se num criador, a “verdade”, e para atingir essa verdade, cria a temporalidade sujeitando a ela toda a “existência”.

Temporalidade é condicionar tudo a um princípio e um fim, estabelecer uma “verdade”, como se o incognoscível pudesse passar a ser cognoscível, ou seja, a Natureza compreender-se a ela própria.

Existir na existência, querer ter consciência dentro da inconsciência, é o “pecado original” da Natureza, crer ser a criadora de si própria, porque ao criarmos a criação, implicitamente somos o próprio criador. Nós seríamos a Verdade em si mesma.

Esta veleidade da humanidade paga-se caro, ficarmos prisioneiros do Tempo, regidos pelo Tempo, condicionados pelo Tempo, criando tantas “verdades” quantas as existências, em que a multiplicidade é a própria negação da verdadeira Verdade.

Seremos um acaso ou erro da própria Natureza?
Penso que não, admito mais sermos a consciência que a Natureza tem de si, ou por outras palavras, a Natureza a questionar-se a ela própria.

A temporalidade com a sua noção de princípio e de fim, aspira eternizar-se procurando a compreensão do primeiro para medicar o segundo.

O regresso à intemporalidade só será possível com o desaparecimento do temporal e, tal só pode acontecer, se a Natureza retroceder, se aquilo a que chamamos evolução nunca tivesse acontecido.

8 Comments:

Blogger contradicoes said...

Julgo que o último parágrafo desta abordagem dá resposta à interrogação que colocas. Mas como o retrocesso jamais acontecerá porque não é a tendência natural das coisas. Bem pelo contrário e tu muito bem sabes disso meu caro Augusto. O desenvolvimento das sociedades que como é sabido tem contribuído para a destruição do meio ambiente, o que faz com que os temporais e as catastrofes naturais se intensifiquem
a conclusão a que podemos chegar é a de que o homem através do seu cada vez mais rápido desenvolvimento está a contribuir
em larga escala para destruir o ambiente em que vive. Um abraço do Raul

10:55 da tarde  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Augusto,
O homem na sua busca da verdade absoluta, faz com que o seu tempo seja cada vez mais curto. Julga-se dono da verdade absoluta, quando muito provavelmente está muito longe de a conhecer. Talvez o principal problema da humanidade seja o seu próprio egocentrismo.
Abraço.

11:53 da tarde  
Blogger Je Vois La Vie en Vert said...

Obrigada, amigo Augusto !
E agradeço também as sua visitas frequentes ao meu cantinho. São sempre bemvindas ! Eu tenho estado um pouco ausente na blogosfera por razões de saúde, entre outras, e voltarei quando puder para ler os seus artigos que são sempre de uma grande riqueza !
Um beijinho verdinho

2:41 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola augusto
em primeiro lugar, excelente comentario que deixaste la no sitio.
acerca da verdade. sigo muito uma frase de ortega e gasset: quando ensinares ensina tambem a duvidar daquilo que ensinas.
beijinhos

9:24 da tarde  
Blogger Zecatelhado said...

Cuidado com a ginástica, podes desiquilibrar-te e...PUM! cais sem saber porquê.

Um @ração do
Zecatelhado

2:54 da manhã  
Blogger Diogo said...

«O regresso à intemporalidade só será possível com o desaparecimento do temporal e, tal só pode acontecer, se a Natureza retroceder, se aquilo a que chamamos evolução nunca tivesse acontecido.»

A não ser que atinjamos a imortalidade. E com a evolução da ciência genética a este ritmo, talvez daqui a 20 anos... Mais, menos...

9:58 da tarde  
Blogger Zecatelhado said...

Aconselho-te a ler o que está escrito na coluna da Nau Catrineta.

Aquele @ração do
Zecatelhado

12:37 da tarde  
Blogger H. Sousa said...

Viva, Augusto. Essa cabecinha não pára, não é? Cheguei ao fim e depois lembrei-me que tenho ainda muitas folhas de um livro para ler. Eheheheh! Adivinha qual...?
Abraço

2:18 da tarde  

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