domingo, julho 29, 2007

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O Islamismo ( IV )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

As grandes dissidências no Islão

O Kharidjismo foi a primeira grande dissidência, que surgiu do desentendimento entre os soldados de Ali. A principal discordância do em relação ao Sunismo (a ortodoxia islâmica, aquela que seguia o originais ensinamentos de Maomé), era política. Eles acreditavam que qualquer cidadão deveria ter o direito de ascender ao Califado, desde que fosso islâmico. Porém, o Califa deveria ser julgado quanto ao cumprimento das suas obrigações, podendo ser deposto se não cumprisse adequadamente.
Após a morte de Ali, que possuía muitos apoiantes, este foi transformado por muitos numa figura semi-divina. Ali, bem como os seus descendentes (filhos deste com a sua esposa Fátima, filha de Maomé) passaram a ser considerados mais importantes do que Maomé.
É bom referir que os Califas eram, até ao tempo de Ali, ao mesmo tempo Malik (Rei) e Imam (líder religioso), porém o culto que se desenvolveu a Ali, tratava-o e também ao seu filho, Hussayn, como Imam. Este culto recebeu o nome de Xiismo. Os Xiitas, uma seita que persiste até aos dias de hoje, acreditam que Califado só pode ser exercido pelos descendentes directos de Ali, pois estes são naturalmente divinizados.
Cada Imam tem o dom, concedido por Alá, de rever as escrituras, pelo que, a palavra de um Imam, é superior ao Alcorão e mesmo ao Imam anterior.
A crença na divindade do Imam fez com que Xiitas não aceitassem os Califas e, sendo assim, desenvolveram vários ataques e revoltas ao longo de todo o Califado Omíada e depois, também no Abássida.
Para os Xiitas, o Imam designa entre os seus filhos aquele que for apto para ser o futuro Imam. Isso estaria na base da dissidência no próprio seio dos Xiitas, quando o sexto Imam, Djafar, em vez de escolher para futuro Imam o filho mais velho, Ismail, como mandava a tradição, escolheu o filho mais novo, Musa. Muitos Xiitas não aceitaram Musa como Imam e passaram a venerar Ismail como seu Imam, ficando conhecidos por Ismailitas, um facção Xiita, considerada radical.

A expansão do Islão

Foi durante o governo de Uthman que a expansão dos domínios árabes tomou realmente a forma que viria a ter nos próximos anos, sobretudo durante a dinastia Omíada. Três foram os caminhos adoptados pelos Muçulmanos para expandir a sua fé e o controle temporal.

Oriente

Depois da morte de Alexandre, o seu Império foi dividido entre os seus principais colaboradores, cabendo a Seleuco, o antigo Império Persa. A Ásia Seleucida foi desmembrada em diversos reinos: Arménia, Média Atropatena, Partia, Bactriana e Seleucida.
Em 64 a.C., a Partia, sob a dinastia dos Arsácias, toma as demais regiões e forma o chamado Reino Parto. Os Partos, a Oriente, tornam-se os principais opositores à expansão romana. Em 224 d.C., um príncipe regional chamado Ardachêr, derruba a dinastia Arsácida e inaugura a dinastia Sassânida, com a qual ressuscita a antigo Império Persa.
Os Sassânidas iriam oferecer mais problemas aos romanos do que os Partos, frustrando mesmo, todas as ambições de expansão. Dois imperadores romanos sucumbem nesta luta, Juliano e Valeriano.
Depois da queda do Império Romano, os Sassânidas passam a disputar a hegemonia do Oriente com os Bizantinos. Em 628, Heráclito, imperador de Bizâncio, impõem uma tal derrota à Pérsia, que a dinastia Sassânida ficou sem possibilidades de se reerguer.
Em 651, Yazdgard, último Grande-Rei Sassânida é morto pelos árabes depois de fugir de cidade em cidade, terminando a dinastia. A expansão árabe no Oriente não se limitou aos territórios persas, estenderam os seus domínios até ao Irão, Índia e certas regiões da China.

Norte

Enquanto a expansão rumo ao leste se fundamentava na anexação dos territórios do Império Persa, para norte almejava a conquista de regiões do Império Bizantino. Estas conquistas foram as que menos lograram êxito, na fase inicial. Só mais tarde os turcos, vindos do Turquestão, invadiram a Capadócia, deram origem ao Império Otomano.
As principais motivações desta frente de combate eram comerciais. Os árabes, que estavam sob a égide de um clã comercial (os Omíadas) desejavam banir os Bizantinos do comércio do Mar Mediterrâneo. Depois de conquistar a supremacia no Mediterrâneo, os árabes iniciaram a conquista de diversas ilhas e cidades costeiras, como Rhodes e Chipre, atacando também a Sicília e o sul da Itália.

Ocidente

A expansão árabe rumo ao Ocidente foi a que começou mais cedo, já no governo de Omar, motivada pelo sentimento revanchista que boa parte dos árabes nutria em relação aos abissínios (etíopes), pois estes, além de dominarem por longo tempo o Reino de Sabá, terem tentado impor o Cristianismo aos povos árabes pré-islâmicos.
Durante o califado de Omar, as conquistas estenderam-se até Tripoli, Egipto e Abissínia. Esta frente foi suspensa no tempo de Ali, devido às diversas guerras internas durante o seu califado.
Quando a dinastia Omíada se instalou, voltou os seus olhos novamente nesta direcção da expansão. Como naquele tempo, a tomada de Constantinopla não era possível, precisavam de atingir a Europa de outra maneira.
Com as conquistas no norte de África, ocorreu um grande aumento da expansão do Império, bem como uma verdadeira revolução na máquina de guerra islâmica, ao acontecer a conversão dos Berberes, conhecidos pelas suas altas qualificações militares e estes, terem tomado a responsabilidade de invadir a Espanha visigótica.
A conquista da Espanha (entre711 e 714) marca o início do apogeu do Império Islâmico, que dominava uma região maior do que a extensão máxima do Império Romano.

Haveria muito mais para contar, sobretudo no que nos toca directamente, mas ficará para outra oportunidade.

sábado, julho 21, 2007

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O Islamismo ( III )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

A conquista da Arábia

Depois da conquista de Meca e destruídos os ídolos da Caaba, Maomé retornou a Medina, onde organizou expedições contra toda a Arábia Central. Estas expedições iriam colocar boa parte da península sob a autoridade do profeta, mas a sua união só seria conseguida um ano após a sua morte.
Na peregrinação anual dos povos Árabes à Caaba, em 631, os peregrinos não encontraram as suas divindades, mas sim a Caaba transformada numa mesquita. Esta peregrinação marca a transição do politeísmo para o monoteísmo, instituído por Maomé.
No ano seguinte, em 632, na sua peregrinação anual à Caaba, Maomé ensinou os rituais a serem seguidos nas visitas futuras e, num arrebatado discurso, declarou que a sua missão terminara, apelando à união de todos os Árabes em torno do Islão. Fechou o discurso perguntando a todos se havia cumprido a sua missão, como a resposta foi afirmativa, declarou que aquele seria o seu último discurso.
Com 61 anos, idade avançadíssima para a época, após o regresso a Medina, falecia no oitavo dia de Junho de 632. O enterro de Maomé foi uma cerimónia simples, sem muita pompa, realizado em Medina no dia seguinte à sua morte.

O Período dos quatro califas
(Rasnidun)

Sem ter deixado nenhum filho homem, não se sabia quem seria o seu sucessor, pelo que, apareceram muitos pretendentes que legitimavam a sua pretensão. Alguns desses pretendentes, entre os quais se encontrava Ali, o primo de Maomé, temiam que Abu Bakr, pelo seu carácter de liderança fizesse do sepultamento do profeta, uma forma de assumir o poder.
De nada adiantaram as precauções dos candidatos à sucessão de Maomé, pois Abu Bakr e Omar (um importante membro da sociedade Caraixita, convertido em 619, e que tinha contribuído a para a conversão de boa parte da população de Meca, devido à sua popularidade), chamaram a si a responsabilidade de governar a Arábia e, apoiados um no outro, realizaram esta missão. Abu Bakr tornou-se no primeiro Califa, segundo reza a tradição, pois Maomé era o Profeta.
Com Abu Bakr, inicia-se o Período dos Quatro Califas, no qual o Império Islâmico, propriamente dito, começa a tomar forma, com a consolidação de uma unidade religiosa, do que havia conseguido Maomé com sua uniformização da manta de retalhos étnico-religiosa que formava a Arábia. Este período foi muito conturbado, com o surgimento das primeiras dissenções religiosas no Islão e com a abertura das novas frentes de batalha, contra a Pérsia e o Império Bizantino.

Abu Bakr (632-634)

Quando Maomé morreu, as diversas religiões árabes recuperaram força, alimentadas por diversos profetas, que tentaram a todo custo, a desunião do Islão, porém, a intervenção enérgica do novo califa, com a ajuda de Khalid ibn al-Walid, não só exterminou esses profetas, como apaziguou os Beduínos, conquistando-os. Enviou o seu general ao sul da península, que conquistou o Reino de Sabá e diversos Estados independentes do Iémen, Hadramaut, Omã e o litoral do Golfo Pérsico.
Em 634, Abu Bakr adoece e morre, mas no seu leito de morte, não se esqueceu de recompensar o seu principal aliado, Omar e, designou-o como seu sucessor.

Omar ibn al-Khattab (634-644)

Inicialmente séptico ao Islamismo, após a sua conversão, tornou-se num dos principais responsáveis pelo poder deste. Concentrou os seus esforços na conquista da Mesopotâmia, as antigas Judeia e Fenícia e expandiu até Alexandria, dominando as principais rotas comerciais. Os seus exércitos eram liderados por Khalid ibn al-Walid, que por todos os seus feitos em prol do Islão, ficou conhecido como “A Espada de Alá”.
A viabilidade das conquistas devia-se à tolerância dos conquistadores, pois quando os árabes dominavam uma região, não a obrigavam a converter-se ao Islamismo, apenas impunham um pesado tributo, aos não islamizados, para financiar as novas conquistas.
Do ponto de vista estratégico, cultural e económico, Omar foi muito eficiente. Ordenou a construção de três cidades que serviam de bases militares; Kufa, ao sul da antiga Babilónia; Basra, no Iraque; e Fostat, no actual Cairo. Com finalidade militar de defender e controlar a região, também eram utilizadas socialmente como pólos de islamização da região.
Foi Omar quem organizou o calendário Muçulmano que é seguido hoje, foi ele que fixou a Hégira como marco zero do calendário islâmico.
Organizou as finanças do império, criando o balanço (a diferença entre o receita e a despesa), organizando administrativamente os territórios conquistados sob as ordens de um governador e general, Wali, assistido por um Amir, responsável pela receita de cada uma das regiões conquistadas.
O seu temperamento era de tal modo cruel que, em 644, levou um escravo enfurecido a causar-lhe um ferimento mortal. No leito de morte, ainda teve tempo de designar um conselho com seis membros com a função de eleger o novo Califa.

Uthman ibn Affan (644-656)

O conselho dos seis era formado por, entre outros, pelo próprio Uthman que, além de amigo de Maomé, havia desposado uma das suas filhas e Ali (primo do profeta). Este conselho acabou por eleger Uthman como novo Califa.
Uthman ao contrário dos seus predecessores, não era uma figura famosa entre o povo, nem tão pouco um herói militar, era no entanto, um importante membro da aristocracia comercial de Meca, pertencendo ao clã Omíada. Desta forma, a eleição do novo Califa deu início à hegemonia da aristocracia comercial de Meca sobre o Califado.
Com Uthman, os árabes tentaram dominar as mais importantes regiões comerciais do Médio Oriente e norte de África. Reconquistou Alexandria, que havia sido perdida para os bizantinos e a conquista da Palestina e da Fenícia foram consolidadas. Estas conquistas, no seu conjunto, possibilitariam o início da expansão marítima árabe, pois antes, nunca se haviam arriscado em águas mediterrânicas.
A principal figura da expansão marítima foi Moawiya, o governador da Síria, que obteve sucessivas vitórias sobre a esquadra bizantina. Em 649, Chipre caiu nas mãos muçulmanas e, com este vento, o fim da hegemonia de Constantinopla sobre as águas do Mediterrâneo Oriental. Com as fronteiras consolidadas e com uma economia fortalecida, o Califa diminui o fervor expansionista dedicando-se a elaboração de um texto único para o Alcorão, pois a existência de textos conflituantes, (Maomé não sabia escrever, limitou-se a ditar o livro para outros) começava a gerar discórdias religiosas.
Contudo, o governo de Uthman teve algumas vicissitudes que o tornaram muito impopular. O nepotismo (emprego de parentes e amigos em cargos públicos de confiança) seguido do esbanjamento do tesouro central, que diminuiu os recursos para fins importantes, como os militares. Por outro lado, a paragem da expansão acarretava o fim das presas de guerra e a diminuição dos impostos provenientes dos povos conquistados e não islamizados.
A repercussão de tais factos, acaba por criar uma frente opositora formada por quatro figuras importantes na comunidade islâmica; Aysha, filha de Abu Bakr e principal mulher de Maomé; Ali, primo do profeta; al-Zuayr e Talha, ambos, assim como Ali, membros do conselho dos seis que elegeu o Califa.
A situação tornou-se calamitosa, quando no final de 655, Amr, o governador do Egipto foi deposto pelo Califa que nomeara para o seu lugar um parente. Amr com os seus soldados tentaram depor Uthman, mas não lograram o sucesso. O Califa pediu auxílio ao novo governador do Egipto para que este sufocasse a revolta, que obedecendo, matou um importante general leal a Amr. A morte do oficial levou à revolta os exércitos do califado, que quando a notícia chegou a Medina, os soldados amotinados, invadiram o palácio e mataram Uthman enquanto lia o Alcorão.

Ali ibn Talib (656-661)

Quando Uthman morreu, Ali tomou para si o título de Califa, no entanto, as circunstâncias nas quais o antigo Califa fora morto (lendo o livro sagrado) tornaram-no, inesperadamente, num mártir. Assim, Ali, que possivelmente instigara os exércitos contra Uthmana, foi considerado pelos seus antigos aliados e por Moawiya, governador da Síria, que era primo de Uthman, que com a sua morte herdara a chefia do clã Omíada, um usurpador.
Ali por seu lado, contava com inúmeros aliados, entre os quais as três fortalezas árabes; Fostat, Kufa e Basra. A viúva de Maomé, Aysha, juntamente com outros dois inimigos de Ali, mudou-se para Basra, onde procurou sublevar a fortaleza contra o novo Califa.
Vendo que a sua presença era indispensável junto dos exércitos, em especial na Mesopotâmia, Ali transfere a capital de Medina para Kufa e lá organizou as tropas e marchou contra os rivais, em 656.
Desenrolou-se então a chamada batalha do camelo, onde Ali exterminou as tropas oponentes, além de matar al-Zuayr e Tallha e capturar Aysha, que politicamente deixou de ter qualquer influência.
A morte dos seus inimigos serviu para consolidar as posições de Ali no Iraque, mas na Síria as coisas passavam-se de maneira diferente. Moawiya não aceitava o governo de Ali, a quem considerava um usurpador e, agora aliado com Amr, iniciou em 675, as suas ofensivas.
A batalha de Siffin, na margem direita do rio Eufrades, em 675, foi decisiva, pois os exércitos de Ali estavam levando vantagem até que Amr, que comandava os exércitos de Moawiya, ordenou que todos os seus homens colocassem sobre as espadas folhas do Alcorão. Essa imagem fez com que as tropas de Ali desistissem de lutar, pois consideravam sacrilégio matar homens tão leais à sua fé. Além da desistência, os homens de Ali decidiram submete-lo a uma arbitragem, uma espécie de julgamento para decidir se a sua ascensão ao poder era legítima.
Enquanto Ali se retirava do campo de batalha com os seus homens, cerca de metade deles veio insistir para retomarem o combate. O Califa achou prudente não aceitar a pretensão, pois estariam em menor número e a derrota inevitável. Diante da recusa da Ali, estes soldados desertaram, mas em vez de se passarem para o lado de Moawiya, formaram uma milícia religiosa, cujos seguidores foram apelidados de Kharidjitas. A formação da milícia marca o primeiro grande cisma do Islão.
Depois da formação do kharidjismo, Ali teve que ocupar o seu tempo enfrentando-os, o que permitiu a Moawiya agir livremente, retomando o Egipto, cujo governo era leal a Ali e entregou-o a Amr. Em 660, em Jerusalém, proclama-se Califa.
Ali finalmente derrotou os revoltosos Kharidjitas, na batalha de Nahrawan, nas margens do Tigre. Em 661, quando Ali organizava as suas tropas para marcharem contra a Síria, um kharidjita, disfarçado, invadiu a mesquita de Kufa e matou o Califa. Com a morte de Ali, o caminho ficou livre para as pretensões de Moawiya.
(continua)

sábado, julho 14, 2007

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O Islamismo ( I I )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Maomé o Profeta

Maomé foi filho único de um negociante chamado Abdallah e de uma mulher chamada Amina. Não chegou a conhecer o pai, que faleceu numa das viagens, antes do seu nascimento. Quando tinha seis anos de idade, perdeu também a mãe, que só lhe legou alguns camelos, algumas ovelhas e uma escrava. Passou então a viver com o avô paterno, Abd al-Mottalib, que faleceu quando completou oito anos de idade.
Sozinho no mundo, foi viver com o tio, Abu Talib, que era o lidere hereditário do clã, o que lhe dava um lugar proeminente no Conselho Coraixita de Meca. Abu Talib tinha um filho, que cresceu como irmão de Maomé e que, ao longo da sua adolescência, tornou-se o seu maior amigo, além de vir a ser um dos seus primeiros seguidores.
Em casa do tio é iniciado na profissão de mercador, começando a realizar viagens para toda a parte, especialmente para norte, rumo às cidades do Império Bizantino e Persa.
Reza a tradição de que numa dessas viagens, Maomé, com cerca de quinze anos, teria encontrado o eremita cristão Bahira, no deserto, o qual teria predito a missão do garoto e recomendado ao seu tio que protegesse dos inimigos.
Vive e trabalha em casa do seu tio até aos vinte anos, quando em 591, se torna empregado de Khaddja, uma rica viúva de trinca e cinco anos.
Durante cinco anos, passa a dirigir as caravanas e os negócios de Khaddja. Aos vinte cinco anos, casa com a patroa, agora com quarenta anos, idade muito avançada para a época e para as condições de vida da Arábia.
Do casamento resulta tranquilidade financeira e status social e, o nascimento de sete filhos: três rapazes que morrem ainda bebés e quatro raparigas: Zeineb, Ummu, Keltsum e Fátima.
Em 611, já com quarenta anos, Maomé inicia a sua vida profética; depois de distribuir avultadas esmolas aos pobres de Meca, retirou-se para as montanhas, onde iniciaria a sua meditação.

Meditação e Experiência
A criação da nova Fé

Alguns meses se iriam passar sem que Maomé regresse a casa. Durante esse tempo ele observa os céus, completamente entregue à meditação.
Nos primeiros tempos da meditação nada acontece, mas, após algum tempo de isolamento, uma noite, enquanto dormia, sonhou com um anjo que lhe entregava um pergaminho e ordenava: Lê! Maomé, que era analfabeto, informou o anjo de que não sabia ler, mas o anjo continuou a ordenar a leitura. Sem escolha, obedeceu. Para sua surpresa, conseguiu ler tudo o que estava escrito no pergaminho e, quando acordou, sentiu que uma inspiração divina para escrever um livro havia descido até ao seu coração. A este livro, Maomé, viria a chamar Alcorão.
A partir dessa noite, Maomé ficou com a convicção de ser o “escolhido” de Alá e, com a obrigação de pregar ao mundo a nova Lei. Regressa a casa, conta a sua experiência a Khdidja, agora uma anciã de cinquenta e cinco anos, que em vez de desdenhar do marido, torna-se a primeira convertida ao Islão. Nascia uma nova Fé.
Com quarenta anos de idade, Maomé, encarnava um messianismo, facto fácil de compreender, visto por todos os lados haver os Kâhin, ou profetas, que preconizavam a vinda de um Messias até ao Juízo Final.
Inicialmente, a sua pregação ficou restrita a um círculo muito pequeno, formado pela mulher, o primo Ali, o amigo Abu Bark, o escravo que adoptou como filho Zayd e o genro Uthman.
Maomé aguardava que novos sinais dos céus lhe fossem enviados, porém, em quase três anos, nada aconteceu e, ele sentia inibido a iniciar a sua pregação para estranhos.
Em 613, porém, um novo “contacto divino” foi estabelecido com Maomé, ele teve uma espécie de ataque epiléptico (hoje muitos historiadores suspeitam que o profeta sofresse de epilepsia), do qual, depois de voltar a si, contou as revelações. Na verdade, a partir dessa data, esses “contactos divinos” começaram a tornar-se mais frequentes, o que motivou o profeta a iniciar as suas pregações ao povo.
As primeiras pregações não atingiram grandes proporções, mas por volta de 615, já havia um número elevado de recém-convertidos ao Islamismo. Nesse grupo podiam-se contar principalmente jovens dos grandes clãs Coraixitas, membros dos clãs Coraixitas menos influentes, muitas pessoas não pertencentes aos clãs Coraixitas e numerosos escravos.
A conversão dos filhos dos grandes clãs começou a preocupar a elite Coraixita que não via com bons olhos algumas das práticas recomendadas por Maomé, tais como: a valorização da solidariedade, a doação de esmolas e o carácter profundamente monoteísta do Islamismo. Esta era a pior característica da nova religião, do ponto de vista dos Coraixitas, porque se ela se propagasse muito, poderia causar um colapso na economia de Meca que girava em torno de uma Caaba de pluralidade divina.
Devido a esses pontos de conflito entre as elites de Meca e a religião de Maomé, iniciou-se uma forte perseguição ao seu culto na cidade. Tais perseguições, iniciadas em 615, originaram a dissidência de muitos convertidos e na fuga de outros para a Etiópia, onde o monoteísmo era aceite devido ao facto de no país, na época, ser cristão.

A Hégira

Contudo, Maomé não sofria nenhuma sanção dos Coraixitas, devido ao facto do seu tio, apesar de não se ter convertido ao Islão, permanecer como um dos membros do conselho da cidade e protegia o sobrinho. Além disso, Khadidja, sua esposa, era uma mulher muito rica.
Porém, em 619, duas tragédias ocorreram de seguida para Maomé: primeiro Khadidja falece com 63 anos, pouco tempo depois, ocorre a morte do seu tio protector. Abu Talib, no leito de morte, recusou converter-se ao islamismo, o que geraria a crença, entre os seguidores de Maomé, de que iria para o inferno. Essa crença fez com que Abu Lahab, irmão de Abu Talib e novo chefe do clã de Maomé, se tornasse o pior inimigo dos muçulmanos, incentivando as perseguições, principalmente, ao próprio Maomé.
Ao perder os seus apoios, Maomé, percebeu que a sua vida, caso permanecesse em Meca, correria perigo, o que o levou a tomar a decisão de abandonar a cidade e tentar instalar-se em Taif, uma cidade situada nas montanhas, próximo de Meca. No entanto, depois de alguns dias na cidade, foi expulso e obrigado a regressar a Meca. Tentou então o contacto com os chefes das tribos beduínas, mas fracassou em uni-las e mesmo em convertê-las, pois para estes, a unidade política não tinha sentido, amavam a liberdade e o nomadismo. Depois do fracasso diplomática frente aos beduínos, Maomé voltou a sua atenção para a cidade onde estava sepultado seu pai: Yathrib.
A cidade de Yathrib havia sido fundada por três tribos judaicas fugidas da destruição da Judeia: os Nadhir, os Qorayza e os Qaynoqa. Porém, alguns anos após o estabelecimento destas no território, duas tribos árabes dissidentes do Iémen, os Khazradj e os Awz, chegaram à cidade e depois de dominarem os judeus, passaram a lutar entre si pela hegemonia. Os Awz, com quais os judeus se aliaram, venceram e passaram a controlar a cidade, num sistema semelhante ao de Meca.
Maomé reuniu-se, em 620, com líderes dos seis clãs Khazradj, os minoritários, e converteu-os. Depois da conversão de parte dos membros da tribo Awz, Maomé recebeu, em 622, garantias de que poderia vir com os seus adeptos de Meca para Yathrib.
Maomé voltou a Meca e organizou a partida dos seus seguidores, que em pequenos grupos, partiram para não levantar suspeitas. Ele e Abu Bakr foram os últimos a deixar a cidade. Ambos passaram por Qoba, onde Ali os esperava e os três marcharam para Yathrib, onde em 24 de Setembro de 622, fizeram a sua entrada triunfal.
A Hégira, ou seja, a saída dos Muçulmanos de Meca e a sua ida para Yathrib, está concretizada. Na nova cidade Maomé é recebido com honrar e assume o posto de Malik. É de notar que as duas tribos iemenitas de Yathrib viram em Maomé e na nova religião tanto o Messias do qual os judeus da cidade falavam, quanto uma esperança para o fim das disputas entre ambas pelo poder da cidade.
Chegado a Yathrib e obtido o poder, Maomé tornou a cidade a inimiga número um de Meca, tanto que esta passou desde o princípio ao confronto aberto contra o profeta. Foram oito anos, nos quais se por um lado Meca atacava, por outro Yathrib se defndia e fortalecia. Em oito anos, pode Maomé passar de Malik, lidere político, a Califa, lidere religioso (Íman), fortalecendo a sua cidade a ponto de empreender a conquista da rival.
Quando da chegada do profeta a Yathrib, a cidade estava dividida em alguns grupos bem distintos quanto à sua orientação religiosa: havia o grupo de fiéis que havia migrado de Meca com Maomé, que estavam marginalizados social e economicamente na nova cidade; havia os convertidos de Yathrib, em especial a aristocracia da cidade, que apoiavam Maomé; havia os habitantes, aqueles que haviam aceite o Islão, mas não com plena convicção; havia também os pagãos que recusavam substituir as religiões antigas pelo Islão; e, por fim, os judeus, que praticavam a sua religião milenar baseada no Talmude e nunca aceitariam a conversão ao Islamismo.
A maioria dos adeptos de Maomé que haviam imigrado com ele de Meca, não tinham sequer uma propriedade em Yathrib e, dessa forma, estariam condenados à miséria se não fosse a política de intervenção do profeta.
Maomé não tardou em tomar as suas previdências. Das elites convertidas de Yathrib, ele tirava o apoio para realizar os seus projectos; quanto aos hesitantes, fazia de tudo para torná-los realmente fiéis ao Islão; aos pagãos, deu-lhes liberdade de culto, pois sabia que, na posição em que se encontrava, se fosse intolerante com aqueles que compunham a maioria da população, seria forçosamente derrotado.
Porém, as atitudes mais marcantes do profeta foram em relação aos judeus e aos que emigraram de Meca com ele. Como os judeus eram os piores inimigos da sua Fé, Maomé decidiu iniciar uma política perseguição violenta aos judeus e, à medida que estes eram exterminados, os seus bens ficavam para os oriundos de Meca. Em oito anos exterminou as três tribos judaicas de Yathrib e impôs o medo aos pagãos que temiam serem as próximas vítimas de perseguições. Desta forma conseguiu as terras e bens dos judeus para os seus protegidos e ainda conseguiu forçar a conversão de boa parte dos pagãos, tanto que, em 628, Yathrib mudou o seu nome para Medina, ou seja a cidade do profeta, e o Estado de Medina constituía-se numa teocracia.
Quando em Fevereiro de 628, Maomé resolveu realizar uma peregrinação a Meca, foi impedido pelos Coraixitas de entrar na cidade, mas firmou um acordo para voltar no ano seguinte. Em 629, voltou a Meca, com a permissão de ficar três dias, mas conseguiu prolongar a sua estadia realizando mais um casamento com Maimuna, filha do seu tio, al-Abbas, que não se convertera, e tio de Khalid ibn al-Walid, o maior general de Meca.
Graças ao casamento, conseguiu a conversão de Khalid ibn al-Wlid. Este, no mesmo ano, liderou uma grande expedição contra as fronteiras do Império Bizantino, expedição que terminou em fiasco e a morte da maior parte dos muçulmanos, mas que foi uma demonstração de que as tropas de Medina estavam prontas para uma guerra definitiva contra Meca.
No princípio de 630, o general recém convertido, liderou os exércitos de Medina até às portas de Medina. Maomé exigiu a entrada em Meca sem resistência e visitar a Caaba.
Uma pequena força militar de Meca que ofereceu resistência, foi destruída pelas tropas muçulmanas e Maomé, junto com o seu exército marchou até à Caaba. Chegado lá, contornou o templo sete vezes e depois entrou; então tocou a Pedra Negra com o seu cajado e gritou: “Alá é o maior”. Em seguida, ordenou a destruição dos mais de trezentos e sessenta ídolos das várias religiões da Arábia, que havia na Caaba e, por fim, mandou que o tecto, onde havia um fresco judaico-cristão, fosse pintado. Era a conquista de Meca, a vitória de Maomé, o profeta de Alá.

(continua)

sábado, julho 07, 2007

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O Islamismo ( I )
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso



Só a generosidade ganha genorosidade
O Islamismo é uma religião monoteísta baseada nos ensinamentos de Maomé, chamado o “O Profeta”, contidos no livro sagrado islâmico, Alcorão. A palavra Islão significa submeter e, exprime a submissão à lei e à vontade de Alá. Seus seguidores são chamados de muçulmanos, que significa aquele que se submete a Alá.
A história do islamismo é fascinante pela sua grandeza, refinamento, sabedoria e também pela forma como tão rapidamente se implantou fora das fronteiras da península arábica, para conquistar o mundo formando um grande império.
É preciso conhecer um pouco da sua história para descobrir como um povo até então quase desconhecido, disperso em tribos, que só aceitava a autoridade e arbitragem de um “shaikh” eleito entre eles, unificou-se sob o impulso de uma nova pregação.

O mundo islâmico antes de Maomé.

No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida nómada, divididos por tribos, incapazes de construir uma federação. O deserto tinha as suas desvantagens e o comércio das caravanas era mais importante que a agricultura. Isso exigia muitas viagens e os homens iam muito além da península, à Síria, Abissínia, Iraque e Índia.
Na Arábia central, estava localizado o Iémen dividido em numerosos principados e ocupado em parte por invasores estrangeiros.

Principados do Iémen

O Reino de Sabá

Tem as suas origens no século VIII a.C., fundado pelos Sabeus, em torno do seu Rei-Deus. Em 115 a.C. os Himiaritas, povo que se encontrava sob o jugo dos Sabeus, passam a governar o reino e, o monarca perde o carácter divino. Com a conversão ao cristianismo dos seus vizinhos os abissínios (etíopes), sofrem da parte destes, diversas invasões que visavam a sua conversão ao cristianismo. Resistem até 340, quando os etópoes conquistam o Reino e mantiveram-no sob o seu poder até 378, quando os Himiaritas retomam o poder. Facto interessante é que, sob o domínio etíope não se converteram ao cristianismo mas ao judaísmo. Após um período de degradação, em 530, os etíopes voltam a retomar o controle sobre o Reino.
Por volta de 540, uma grande represa construída na Antiguidade rompeu, alagando boa parte do território matando milhares de pessoas.
O rompimento da represa fez com que a seca caísse sobre a região e, desta forma, muitos dos seus habitantes abandonaram o país e rumaram para o norte. Em 575 a pedido dos Himiaritas, a Pérsia invade a região, repõem-nos no governo e mantêm-lhes a soberania, mas com a condição de que a sua região se tornar uma satrápia persa.
Em 632, o Reino de Sabá foi incorporado no Islão, com a sua conversão e anexação pelas tropas de Maomé.

Reino Mineano

Reino organizado da mesma forma que o Reino de Sabá, ou seja, com um grupo étnico, os Mineanos, formando uma teocracia, cuja capital era Qarnaw. Estabeleceu-se por volta do século VIII a.C., ao norte do Reino de Sabá. Vizinhos, os dois Estados entraram em conflito várias vezes, até que, no seculo I a.C., pouco depois da ascensão dos Himiaritas no reino vizinho, o Reino de Mineano foi conquistado pelo reino de Sabá.

Reino de Qataban e Reino de Hadramaut

Reinos vizinhos, estabelecidos a leste do Reino de Sabá, a sua importância comercial residia no comércio com a Índia. Eram produtores de incenso e ouro.
O Reino de Qataban estabeleceu-se por volta de 600 a.C., tendo por capital Tamma e, perdurou até 50 a.C. O Reino de Hadramaut estabeleceu-se por volta de 450 a.C., tendo como capital Shabwh e perdurou até ao início do século II.
Não foram anexados pelo reino de Sabá, como o reino de Mineano, permanecendo autónomos. Devido ao comércio, os chefes regionais passaram a ser poderosos demais para obedecerem a uma autoridade central, ocorrendo uma gradual descentralização, até que os governantes das capitais não serem mais soberanos de todo o país. Desta forma, ficaram extintos os reinos.
Essas regiões continuaram a exercer políticas independentes até à sua anexação pelo Islão em 632.

Reino de Petra

Este reino localizava-se numa região que não pertence à península Arábica. Por volta de 550 a.C., várias tribos nómadas do nordeste da península Arábica reuniram-se com o objectivo de protecção mútua, fundando a cidade Petra. Apesar de não terem conseguido conquistar muito espaço, o seu reino, semelhante a uma cidade-estado, prosperou tanto que ficou livre do domínio de Alexandre o grande.
O Reino de Petra, constituído por tribos que se identificavam como Nabateus, auxiliou os Romanos na destruição da Judeia e, em 106, Trajano transformou o Reino de Petra em província Romana. Depois da queda de Roma, Petra nunca mais voltou a ser um reino autónomo, tendo pertencido ao Império Bizantino e depois ao Persa, até ser anexada pelo Islão.

Império de Palmira ou Tadmor

Tadmor era uma cidade a noroeste de Damasco, cuja origem remonta a tempos muito recuados, mas só adquire importância quando do domínio romano, por ser o principal entreposto entre o Oriente (Pérsia, Índia, China…) e Roma.
Apesar de muito efémero, o Império de Tadmor foi grande. A região, assim como Petra, foi uma das principais componentes do núcleo do Império Islâmico, especialmente no Califado Omíada.

Reino dos Gassânidas

O Reino dos Gassânidas foi fundado por volta de 400, por fugitivos do Reino de Sabá, quando foi conquistado pelos etíopes. No princípio, esses refugiados vivam em acampamentos itinerantes a sudeste de Damsco, porém, com o tempo, acabaram por fundar duas cidades: al-Yabiyah e Jilliq. As conquistas Persas transformaram-no numa possessão sua e, o reino perdeu a sua importância, ainda que o seu último soberano, Jaballah ibn-al Ayham, tenha oferecido feroz resistência ao Islão, só caindo diante dele na Batalha de Yarmuk, em 636, na qual contou com o auxílio bizantino.

Reino de Hira

Assim como o Reino de Petra, o de Hira também era constituído apenas por uma cidade-estado. A cidade foi fundada a partir de um acampamento da tribo Tanukh que, desde 275, se havia estabelecido na actual Síria.
Após terem tido participação na mudança dinástica do Império Persa (fim da dinastia Arsácida e início da Sassânida), edificaram uma cidade no local do seu acampamento permanente. Hira quer dizer em siríaco, acampamento.
Apesar de ter nascido sob a influência persa, pendia entre os impérios Persa e Bizantino, mas os seus maiores inimigos eram os gassânidas que, em 580, queimaram a cidade.
Após o incêndio a cidade nunca mais foi a mesma e, acabou por ser totalmente absorvida pelo Império Persa fazendo parte deste até ser conquistada pelo Islão em 633.

Estado de Kindah e os Beduínos

O centro da península arábica, em especial o planalto de Nedjd, era habitado por tribos nómadas conhecidas como Beduínos, que viviam no deserto e regiões semi-desérticas procurando oásis e alimento.
Esta região nunca havia conhecido nenhum tipo de centralização política, nunca havia sido formado um reino no centro da Arábia, até que Hassan Tubba, doberano Himiarita do Reino de Sabá conquistou todas as tribos beduínas e pô-las sob a sua autoridade.
Depois, Hassan Tubba cedeu a região ao irmão Hudjr, que fundou o Estado de Kindah, pelo que, o centro da Arábia, apesar de conquistado pelo Reino de Sabá, não passou a fazer parte dele.
A dinastia de Kindah, só teve três representantes, o próprio Hudjr, seu filho e seu neto, Aretas que se tornou tão poderoso que chegou a ser rei de Hira ao mesmo tempo que governava Kindah.
Após a morte de Aretas, em 529, os filhos iniciaram uma guerra entre si para lhe sucederem, as tribos beduínas aproveitaram-se da situação e declaram-se independentes novamente, acabando o estado de Kindah. Esta primeira experiência de unificação viria a ser aproveitada, mais tarde, pelo Islamismo.

O triângulo Meca – Ta’if - Medina

Nesta área limitada da Arábia Central, a existência do triângulo Meca – Ta’if – Medina, foi providencial. Meca, desértica, privada de água e de outros encantos, representava a África e o ardente deserto do Sara. Ta’if apresentava um aspecto mais europeu. Medina, ao norte, não era menos fértil do que a maior parte dos países asiáticos, como a Síria. Se o clima tem alguma influência sobre o carácter do ser humano, este triângulo, mais do que qualquer outra região da terra, era uma reprodução em miniatura do mundo todo.
Do ponto de vista da religião, a Arábia era politeísta, com algumas crenças semíticas. Adoravam pedras e eram fundamentalmente supersticiosos, com a prática de jogos de adivinhação e oráculos. O povo de Meca tinha noção de um Deus único, mas acreditava também que os ídolos tinham poder para interceder junto a Ele. Não acreditavam na ressurreição e na vida após a morte. Tinham preservado o ritual da peregrinação à Casa de Deus, a Caaba. Uma instituição construída sob a inspiração divina por seu ancestral Abraão. Os 2000 anos que os separavam de Abraão haviam transformado a peregrinação num espectáculo de feira comercial.
Apesar da pobreza em recursos naturais, Meca era o mais desenvolvido dos três pontos do triângulo. Meca era uma cidade-estado, governada por um concelho de dez chefes hereditários, que usufruíam de uma clara divisão de poder. Os chefes de caravanas gozavam de boa reputação e tinham permissão para visitar os reinos vizinhos, para efectuarem negócios. Embora não muito interessados na preservação das ideias e no registo escrito da sua história, cultivavam as artes e as letras, bem como a poesia, a oratória e as lendas.
Ao sul da península, no Iémen, haviam formas de sociedade mais desenvolvidas. Importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente, que penetrava no interior da península, através de caravanas de cameleiros que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos estratégicos. Os sassânidas tinham o monopólio comercial do Oceano Índico e tentavam impedir a concorrência de Bizâncio, que pelo Egipto tenta infiltrar-se na região. Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de passagem entre o Iémen e a Síria e o actual Iraque. Os árabes viviam nas fronteiras das duas grandes civilizações então existentes. A sua religião absorvia essa realidade, posto que a sua fé reflectia um pouco de todas as crenças populares do Oriente.

É neste ambiente que, em 571, nasce Maomé, o homem que pregou a religião única, revelada aos árabes para complementar as revelações anteriores.
(continua)

domingo, julho 01, 2007

Poderá a ficção tornar-se realidade?

Lili é uma mulher de corpo esbelto, bem tornado onde uma cintura fina fazia sobressair as ancas, peito não muito grande e hirto, cabelos compridos e loiros, olhos azuis. Calças justas, blusa de mangas à cava com decote generoso e lenço atado à volta do pescoço. O sapato de salto fino, não muito alto, condizia com a carteira.
Vive numa bela casa, guia em belo carro desportivo, resplandece nas muitas festas que frequenta, todos os homens a cortejam e todas as mulheres a invejam.
Feliz neste mundo das aparências, a sua única preocupação reside na escolha do parceiro, debate-se entre o Brad Pit e Jhonny Depp, dois homens belos, românticos e sedutores.

Toni é alto, corpo musculado e bronzeado, tipo surfista, cabeça rapada, como a nova moda impõem, brinco na orelha, para não destoar, um bonitão cheio de charme, aquém todas a mulheres se rendem. Vida de playboy e dotes de D. Juan, aliados a uma sexualidade de fazer as mulheres perder a cabeça, o seu lema é, usa e deita fora, tal é o assédio de que é alvo.
Com carro espampanante, o apartamento é de menor importância, enquanto elas tiverem casa própria. Roupa de marca enche os roupeiros e uma carteira bem recheada. E suma um pequeno rei.

Isabel é uma vencedora, super inteligente, ela impõem-se na administração da empresa. A sua arrogância veste um fato com corte à homem, domina tudo e todos, a sua vontade é inquestionável. Déspota, usa motorista particular, a família um empecilho, o sexo, uma escapadela, que termina logo que satisfeito o apetite. Só o êxito faz sentido.

O Dr. João D’Ávila é um homem rico, poderoso, a sua empresa é um caso sério de sucesso, o mais inteligente, movimenta-se como o mundo estivesse em dívida para com ele. Possui avião privado, Mercedes, iate, um palácio e uma família que lhe presta vassalagem. Não existem obstáculos que lhe resistam. Só o dinheiro tem significado.

O capitalismo após uma primeira fase globalizadora, vê-se a braços com um desemprego que atinge números imagináveis, metade da população está desempregada.
A falta de rendimentos que o desemprego ocasiona, reflecte-se inevitavelmente no poder de compra e, consequentemente, as vendas baixam. O capital é coagido, para não falir, a dimensionar a sua produção de acordo com a procura, acabando por criar uma elite consumista, da qual ficam excluídos os desempregados, que por necessidade de sustentabilidade, vêm em cada dia que passa, os seus subsídios diminuídos, reduzidos à condição mais primária de sobrevivência.
Mesmo quando a união não faz a força, o número, só por si, pode meter medo, o que, do ponto de vista capitalista, poderia conduzir a um estado de descontentamento generalizado, incontrolável, de consequências imprevisíveis.
Os G8s reúnem freneticamente na procura de uma solução, mas não chegam a um consenso na solução do problema, quase todas as propostas apontam para soluções drásticas, cujo resultado, demasiado perigoso, poderia ser catastrófico para eles.
Verificando que, uma tomada de atitude drástica, não conduziria à solução do problema e esgotadas todas as ideias, resolvem abrir um concurso, com um prémio chorudo, uma espécie de Nobel, para quem apresentasse a melhor e mais viável solução.
Choveram propostas, como se de uma tempestade tropical se tratasse, que pelo ridículo de umas e desumanidade de outras, não vou citar, mas só aquela, que por unanimidade, ganhou o prémio.
Um jovem dos estates, só podia ser, apresentou à assembleia dos G8s o seu projecto.
- Meus caros senhores, na minha opinião, pela experiência adquirida ao longo destes anos, é mais importante para as pessoas o imaginário, do que a barriga, como tal, é esse imaginário que deve ser o nosso alvo. O projecto que vos apresento, intitulado, Mais vale parecer do que ser, visa precisamente dar a possibilidade às pessoas de serem o que gostariam de ser. Uma vez inebriadas pela imaginação, tenho a certeza que a não trocarão por nada deste mundo, ficando o perigo de tumultos generalizados fora de questão.
- Mas que imaginação será essa que as faça esquecer os problemas reais da vida? – Interrompeu um dos membros do conselho, com ar céptico.
- V. Exas., certamente, já ouviram falar do jogo virtual Simes? Pois bem, o que proponho é o mesmo jogo, mas num grau de desenvolvimento muito pais elevado, onde as possibilidades de jogar sejam ilimitadas e o realismo quase perfeito. Nós já temos o programa desenvolvido e os resultados são fantásticos. Conseguimos que o jogador se projecte na personagem que cria, com uma tal intensidade, que acaba por se confundir com ela. Por outras palavras, esquece-se da realidade da sua existência para passar a viver a realidade que cria para o seu personagem, um mendigo poderá governar como um rei se quiser. O resultado que se espera, é que as pessoas esqueçam o que são, para passarem a ser o que imaginam.
Quanto ao custo deste programa, podemos dizer que é zero, dependendo da esperança de vida, a sua rentabilidade para os governos que o implementarem. O equipamento, computador com o jogo instalado, não será comprado pelo utilizador, mas distribuído mediante uma mensalidade que lhe será descontada no subsídio, pequena, mas vitalícia.
As famílias com diversos membros, poderão ter um servidor com tantos terminais, quantos os membros, com um pequeníssimo acréscimo por utilizador. A minha companhia também não venderá os equipamentos, funcionará num regime de sociedade com os governos, recebendo 70% das receitas, uma espécie de Plano Marshal.
O programa ganhador foi implantado e o sucesso superou as perspectivas mais optimistas.

Maria era costureira. Tinha sido despedida de uma dessas multinacionais de índole esclavagista, que se tinha deslocado para outro mercado de escravos mais baratos. Rapariga mais perto da fealdade do que da formosura, forte, com ar desmazelado, passou a ser a vamp Lili.

António mais conhecido por Toneca, era serralheiro de segunda, quando perdeu o emprego. Magrizelas de cabelo comprido e ar seboso, complexado com as raparigas, fugia delas com vergonha. Transformou-se no sedutor Toni.

Verónica empregada de escritório, vivia em permanente conflito com o chefe da contabilidade na empresa onde estava empregada, antes e ser despedida. Não suportava aquele homem que manifestava a sua incompetência, no exercício da autoridade. Mãe de dois filhos, não se defendeu da passagem do tempo, levando uma existência inconformada, entre o trabalho e a casa. Sempre no fim, na escala das prioridades, esquecia-se muitas vezes dela própria. Criou a Madame Isabel.

Joaquim foi um dos apanhados nas malhas da austeridade governamental, reformado antecipadamente, quando foi utilizado o critério de selecção pela competência. Convencido de que o Sol quando nasce é para todos, trabalhassem muito ou pouco, reclamava a sua ausência na progressão da carreira, ainda que nada tenha feito para isso.
Sonhava mais do que trabalhava e jogava com frequência nas lotarias, na esperança de concretizar os sonhos. O Dr. João D’Ávila era o seu ídolo.

A implementação da máquina dos sonhos, foi a maior revolução da Humanidade depois da Revolução Industrial. Satisfeitos os governos por não haver contestação, satisfeitos os capitalistas por continuarem a assegurar os seus negócios e a população flutuante, cada vez mais delirante por viverem na ilusão que quisessem.
Auto encarcerados em casa, as suas vidas são transpostas para o computador, onde o dia a dia decorre conforme o apetecido, sem contrariedades nem impossibilidades, só interrompido para algumas escassas horas de sono.
Nos laboratórios, já está a ser ultimada uma nova versão, aquela que mais excita os cientistas, conseguir que, durante o sono, continuem ligados ao computador e este, além da vida, lhes proporcione os sonhos que desejem, também.
Com a subordinação total do homem à máquina, a paz estaria para sempre assegurada, porque os motivos que dão origem às guerras, deixavam de existir.
Assim, a humanidade ficaria dividida em dois grupos. Os eleitos, a terem uma vida normal e, os que, por causa dos sonhos, se tornariam invisíveis.