sábado, outubro 21, 2006

A origem da vida
(Primeira parte)

O nosso colega Peter do blog Conversa de Chaxa 4, que recomendo a visitarem, pela óptima qualidade do que escreve, lançou-me o desafio de postar sobre o tema: A Origem da Vida.

Pareceu-me importante, como introdução, começar com uma abordagem à problemática que tanto afligi o espírito humano, a final o princípio de tudo: O Tempo.
Para a feitura desta introdução, inspirei-me num livro, imperdível, mesmo de leitura obrigatória para quem gosta do tema, O Implacável Tempo, de Henrique Sousa, outro colega nosso do Blog Hora Absurda, aquém dedico esta primeira parte.


O tempo é uma representação necessária que serve de base a todas as intuições. Não se pode suprimir o tempo nos fenómenos em geral, ainda que se possa separar, muito bem, estes daquele.
O tempo, pois, é um dado “a priori”. Só nele é possível toda a realidade dos fenómenos. Estes podem desaparecer, mas o tempo mesmo, como condição geral de sua possibilidade, não pode ser suprimido.
Kant

O homem, a consciência, que cria o tempo, que não existiria num universo sem homens e sem consciência. - A. Wheeler

O tempo é a nossa dimensão existencial básica - Ilya Prigegine

Devíamos concentrar-nos antes na outra pergunta: “Como é que o homem chegou ao tempo?” Ernest Pöppel

Identificando-me com os postulados anteriores, é minha convicção que o Tempo existe, por que o homem existe, pois o Tempo é sua criação, ficando as suas existências inter dependentes.

O homem questiona a sua existência, mas a nada que o transcenda tem acesso, a intemporalidade apresenta-se lhe incognoscível, e o seu sensitivo nada percepciona fora do seu âmbito.
Mas não desanima, a sua limitação levou-o a “fabricar” a sua própria justificação, criando para tal, a noção de Tempo, fragmentando dramaticamente a intemporalidade. Se não podes conhecer a totalidade, contenta-te com parte dela.

Não ouve um momento definido para a criação do Tempo, mas consequência do processo evolutivo do homem.
Ainda como ser que interage com a Natureza, sem dela ter consciência, o Tempo não existe. A sua existência é colectiva, num todo natural, onde o individual não é consciencializado, é uma espécie de vida global regida pela própria evolução da Natureza.
O despertar da consciência da individualidade, leva-o ao reconhecimento da sua finitude, e com ela, o aparecimento do primeiro conceito de Tempo, o Tempo da duração da sua existência.

Daí aos anos, dias, minutos e segundos, foi um ápice do seu próprio Tempo. Tornando-o a sua própria consciência, na sua medida padrão também se tornou. Esticando-o para o infinitamente grande e encolhendo-o para o infinitamente pequeno, foi-o adaptando às conjecturas sobre a sua origem, sempre com a ambição frustrada de com um segmento de recta encontrar o principio e o fim da própria recta.

A sua obsessão é tão grande que se dilui nele e nele procura a sua origem, ciente de que o princípio do Tempo é o seu também. Mas como o Tempo é limitado, limita a sua origem a uma singularidade. Usando a imaginação para inverter o próprio Tempo, gritou Eureka! pensando que descobriu a criação numa simples explosão dessa singularidade, a que ironicamente chamou Big Bang, que para ele tudo abarca e justifica da evolução da criação.

A descoberta do princípio, contudo, não lhe mostrou o fim, continuando sem perceber a recta, limita-se à semi recta, convencido de que tudo que tem um princípio tem de ter um fim. Como não é capaz de melhor, e tudo tem de provar à luz da ciência, o cognitivo, aquilo que julga poder postular sem errar, volta a inverter as contas e fazer voltar tudo de novo à singularidade, e assim, em sucessivos ciclos, tão sucessivos que ficam sem razão.

Coitado, influenciado por Descartes quando afirma, penso, tenho consciência, logo existo, já se julgava dono do Tempo, quando um senhor incómodo lhe bate à porta.
No dizer de Baudelaire, o Tempo come a vida. Afinal de contas criar o Tempo, não foi mais do que arranjar lenha para se queimar.

Mas, ainda não se tinha recomposto do desânimo, já outro, não menos chato, lho quer tirar. Aristóteles nas suas conjecturas sobre o Tempo chegou à seguinte conclusão: uma porção dele passou e já não existe, enquanto a outra acontecerá e ainda não existe.
Contudo o tempo – infinito ou a porção dele que se queira examinar – é composto daqueles.
Supor-se-ia naturalmente que o que é composto de coisas que não existem não poderia ter qualquer papel na realidade.
De onde se deduz que o tempo e a consciência dele, não existem, não passam de uma ilusão. Tanto Tempo perdido para nada.
(continua)

sábado, outubro 14, 2006

Já houve tempos em que as classes sociais se dividiam em clero, nobreza e povo. Os tempos evoluem, mas os melros são sempre os mesmos, e vimos aparecer como quem não quer a coisa, a burguesia. Como esta mais parecia a antiga nobreza tão desprezada pelo povo, teve, como se diz hoje, de criar um novo paradigma das classes sociais, mais “democrático”, que esbatesse o fosso existente inicialmente, na dicotomia rico ou pobre, e desse a ideia que a diferença, anteriormente existente entre elas, tinha desaparecido. Em vez das duas tradicionais classes, excluindo o clero que continua na sua tradicional “pobreza”, passaram a haver 6 classes definidas e uma indefinida.

Classe média alta
-Carro de grande cilindrada e marca prestigiante, normalmente mais do que um, comprados a pronto.
- Férias em destinos muito chiques e sofisticados, sobretudo dispendiosos.
- Habita em sumptuosas vivendas ou luxuosos condomínios de luxo, sendo privilegiada a localização em lugares elitistas, onde o seu elevado custo selecciona os habitantes.
- Transportes públicos? Não sabem da existência.
- A sua aspiração é ter uma vida de rico.

Classe média média
- Carro de grande cilindrada e marca prestigiante, em muitos casos, o segundo carro é indispensável, mas comprados a prestações.
- Férias em destinos, que pela sua vulgaridade, são económicos, pagos normalmente com o subsídio de férias ou com algumas facilidades bancárias.
- Habita no limbo das zonas chiques, em bons apartamentos ou em condomínios fechados, que sem o luxo dos anteriores não passam de gaiolas, que leva toda a vida a pagar.
- Transportes públicos? Que horror. Não suporta o mau cheiro do populacho
- A sua aspiração é levar a mesma vida que a classe média alta.

Classe média baixa
- O carro já não é da gama alta, novo ou usado é sempre comprado a prestações.
- Férias no Algarve ou em destinos em promoção, onde as facilidades bancárias têm um papel fundamental.
As opções que têm de ser levadas em conta, muitas vezes levam a esquecer que o comer bem também faz parte da vida.
- Habita em zonas não nobres, mas com bons apartamentos, em prédios que parecem colmeias. Por vezes nem a vida inteira chega para pagar a casa.
- Transportes públicos? Isso é para os pelintras.
- A sua aspiração. Se não tiver o que os outros têm, não tem qualidade de vida.

Pobre remediado
- Carro de fraca cilindrada usado, com pelo menos 10 anos. As prestações são o único meio que o pode propiciar.
- Férias nas praias portuguesas, perto do local de habitação, há que ir voltar todos os dias.
- Habita em locais considerados populares, apartamento em segunda mão e pequeno, alugado, o banco não quer nada com tesos.
- Transportes públicos? Têm um carrinho para quê? Só a partir do meio do mês quando não há dinheiro para a gasolina é que os utilizam.
- A sua aspiração é ter o melhor carro possível. As opções são: ou o supérfluo ou a barriga, o dinheiro por muito que estique não chega realmente para tudo. È um cidadão como os outros, os direitos devem ser iguais.

Pobre de menos recursos
- O carro está a cair de podre, mas anda o que é importante, mais que não seja quando há dinheiro para a gasolina.
- Férias? Talvez, de quando em vez, numa praia próxima como sardinha em lata, que esteja ao alcance do raio de mobilidade do seu carro.
- Habita em bairros degradados, ou em bairros sociais.
- O transporte público é o eleito, pelo menos não avaria.
- Aspiração. Além do carrito, que o Benfica ganhe o campeonato

Pobre à séria
- Carro! Não tem.
- Férias! O que é isso? É alguma coisa que se coma?
- Habita numa barraca.
- Transportes públicos são para ele um luxo nem sempre possível
- Aspiração? Não aspira a nada, porque o nada já ele tem.

A pobreza envergonhada e clandestina
Apesar da sua existência já ser muito significativa, pouco ou nada se pode quantificar.
Refugiada na clandestinidade, finge que o não é, vivendo muitas vezes a ilusão de que pobre é o vizinho do lado, defraudando intencionalmente as estatísticas da pobreza.

O aparecimento destas classes sociais, com excepção das duas últimas por razões óbvias, encurtou a ponte entre ricos e pobres, cuja ilusão da sua aproximação se confina ao automóvel, tornando-o no objecto mais desejado.

sábado, outubro 07, 2006

Filogenia dos ancestrais humanos

Cro Magnon (II)

Ignora-se a motivação que levou os nossos antepassados a pintar, contudo, a pintura foi o mais importante passo na evolução cultural do homem.
A escolha dos lugares, a dezena de metros abaixo das áreas onde decorria a vida, para as pinturas das cavernas na Europa Ocidental, demonstra que a cave da arte foi usada para uma variedade de propósitos quer de ritual quer social.
Com a pintura aparece a gravação quer em pedra ou osso e na sequência desta a escultura.
Não se pode deduzir destes restos humanos quando a linguagem/discurso apareceu, mas é difícil imaginar esta espécie de artefactos sem ela.
O Homo sapiens sapiens tinha nesta altura começado a ser um eficiente fazedor de ferramentas, mas talvez mais precisamente, um fazedor de símbolos e seu utilizador.
A sua evolução intelectual leva-o a substituir a religião do caçador (o medo dos animais) pelo medo dos fenómenos da Natureza. O trovão, o relâmpago e grandes chuvas, passaram a ser os elementos temidos pela sua incompreensão.
O aparecimento de figuras de mulheres, quer gravadas quer em estatuetas, com gordos e exagerados traços sexuais, sugerem que elas simbolizavam a fertilidade.
Com o aparecimento dos agricultores neolíticos, mudou completamente o panorama religioso da Pré-História.
O mais importante para eles passou a ser a terra, o Sol e a chuva. Pelos vestígios encontrados parece que aqueles primitivos homens adoravam o céu na figura de uma divindade a quem se associa a continuação do culto dos antepassados.
O culto da deusa da fecundidade, começou para assegurar a fertilidade dos campos, a fecundidade do gado e a prosperidade da casa,
São as estatuetas mais antigas que se conhece e foram encontradas por toda a Europa, Ásia. África, Austrália e América.
Ela representava a criação e a regeneração da vida.
Eram elas que traziam a vida ao mundo, alimentavam e cuidavam até poder valer-se a si própria. A sobrevivência do grupo dependia delas.
Não se reconhecia o acto sexual como acto de dar vida, e a mulher reprodutora, aparecia como uma força da Natureza, criadora toda-poderosa, que dominava sobre o homem, sobre o animal, sobre a vida e sobre a morte.
Como Grande Mãe, encerrava o desejo humano da fertilidade, assim como a esperança de superar a morte, que o homem da Idade da Pedra, poucas vezes ultrapassava os 25/35 anos.
A ideia fundamental da idealização da Deusa Mãe, foi conceber um conceito universal capaz de integrar o macrocosmo e o microcosmo.
Ela não só tinha capacidade reprodutora e nutriente, como a causa que sustinha o Universo, que oferecia um corpo cósmico, qual útero, em cujo interior se gestavam todos os estados do ser como um contínuo.
A morte e a vida se sucediam como a noite e o dia, eram complementares e inevitáveis, dando lugar a uma existência sem fim.
Nenhum formulário religiosos posterior terá sido tão holístico, inteligente e tranquilizador como a Ditosa.
Pepe Rodriguez

Com este texto termina a Filogenia dos nosso ancestrais que vim apresentando ao longo de diversos posts. Espero que tenham gostado. Para recordar, fica a fotografia de família.

domingo, outubro 01, 2006

Globalização

A globalização não é algo recente, mas um processo já antigo, que tem vindo a ser implementado para controlar o mundo através do sistema empresarial. Diversos cientistas americanos da área sócio/económica vêm já alguns anos estudando as alterações necessárias na sociedade para a sua implementação.
Edward Demming e Peter Drucker são especialistas de renome internacional na administração empresarial e gurus de metodologia da administração.
Estes dois indivíduos pertenceram a um grupo de americanos que são reconhecidos pelo seu esforço para desenvolver filosofias de administração baseadas em sistemas que começaram a ganhar notoriedade após a Segunda Guerra Mundial.
Para eles, a pedra chave para a implementação destas filosofias de manegement, são os quadros superiores das empresas, os quais deveriam ser treinados para as novas realidades pretendidas com um programa a que foi chamado “Educação Progressiva Transformacional”.
A “Educação Progressiva Transformacional” é o processo implementado para obter essa transição baseado no estabelecimento de uma série de objectivos (ou resultados) a serem alcançados por meio de um esforço cooperativo com o professor que funciona como influenciador.
O influenciador não ensina nada ao grupo, mas influencia-o a alcançar um consenso predeterminado introduzindo situações emocionais, provocando um conflito com conceitos cognitivos para alcançar o resultado especificado, e “Construir comunidades” com “trabalhadores do conhecimento” de modo a “cultivar a lealdade corporativa de uma identidade compartilhada”.
Estes métodos irão levar as pessoas para o lado mais tenebroso da administração empresarial. A ética e a moral dão assim lugar à “Administração Por Objectivos”, inteiramente baseada em resultados, excluindo qualquer preocupação social com os trabalhadores, considerados meros piões descartáveis da máquina produtiva.
Este desenvolvimento de uma pedagogia empresarial avançada foi inicialmente rejeitado pelas empresas europeias, mais viradas para os problemas sociais dos trabalhadores, mas que foi avidamente adaptada pelos japoneses.
O TQM (Total Quality of Manegent) directa e encobertamente altera os valores, a cultura e a mentalidade, buscando aperfeiçoar os sistemas de controlo que produzem e impõem a uniformidade dentro do produto, componentes, trabalhadores, fornecedores e todo o sistema geral de produção. – Uma mudança de Paradigma - uma mudança da mentalidade antiga para a nova, do individualismo para a dinâmica de grupo, do nacionalismo para a globalização.
O aspecto esotérico desta questão aparece quando os princípios da administração começam a ser dirigidos para o corpo, alma e espírito. Esta metodologia cruza o limiar do secular para o religioso.
No seu livro, With no Apologies, o senador Goldwater descreveu a estratégia da Comissão Trilateral, do Conselho das Relações Exteriores, e outras entidades globalizadoras, numa tentativa para controlar os “Quatro Cantos do Poder” para fazer a transição do mundo para o modelo planetário que eles imaginavam. Ele descreveu esses “quatro cantos” como os campos político, económico, teológico e intelectual; e defendeu a posição de que aqueles que controlam os “Quatro Cantos do Poder” controlam o mundo.
Esta é nova filosofia que muitos americanos querem ver implantada, convictos que as soluções militares, além do seu custo, não têm conseguido os objectivos desejados.