domingo, junho 25, 2006


Falemos de Democracia

Falarmos de Democracia, é falarmos de um direito inalienável que os povos têm de viver em Liberdade.
Esquecida a sua origem grega na poeira dos tempos, esta forma de preservar a Liberdade dos povos, foi reinventada no século dezoito pelos americanos.
Porquê só ao fim de tantos séculos de formas de governo totalitários, a Democracia voltou a ser escolhida como forma de governo?
Essencialmente foi a criação uma força aglutinadora de vontades que fosse motivadora da criação de uma nação.
A necessidade de mobilizar uma população, ciosa da sua liberdade pessoal, nunca posta em causa pelo colonizador inglês, que só estava interessado na sua política mercantilista, levou os políticos a criarem um conjunto de conceitos, que consagrariam os direitos e liberdades do futuro povo americano.

“Consideramos como verdades evidentes que todos os homens foram criados iguais; que receberam do Criador certos direitos inalienáveis, entre ao quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade; que foi para manter esses direitos que os governos foram fundados e que só obtêm o seu poder legítimo do consentimento dos governados; que, sempre que uma forma de governo se torne destruidora daqueles direitos, o povo tem o direito de mudar ou de suprimir e de instituir um novo governo...”

Esta era a proposta das liberdades e garantias que serviriam de fundamento à Democracia americana.
Estas palavras sancionadas, a 4 de Junho de 1776, no Congresso de Filadélfia e exaradas na Declaração de Independência dos Estados Unidos, vieram a ser consagradas na Constituição Americana.
A Constituição, aceite pela maioria dos americanos, só seria exequível se fosse preservada por um governo de confiança popular, e esse governo deveria ser eleito pelo próprio povo, pelo que as eleições seriam a “forma natural de escolha dos membros do poder político numa democracia tipo representativa”.
Partimos do conceito de Liberdade para chegar à Democracia e esta por sua vez ser o garante da Liberdade.
Mas citemos a sabedoria de Vitorino Nemésio, a nossa liberdade acaba onde começam os interesses dos poderosos. É na ilusão de liberdade que se reflecte a ilusão democrática.
Passada a fase ideológica, a das ideias e do espírito idealista, logo a figura singela do governo se viu substituída pela figura do governo representante de um grupo ideológico, tornando-se com o passar do tempo, em representante de um grupo de interesses.
É neste último modelo de governo democrático que se revêem muitos dos Estados Europeus, incluindo Portugal, que à semelhança dos americanos, após a fase dos ideais, a ele vêm a sua actuação governamental circunscrita.
Na moderna Democracia, os Estados, com uma inevitabilidade profética, passam a ser governados por grupos de interesses, que à sombra da legitimidade do voto popular, praticam a política dos seus interesses, e onde os princípios da Liberdade dos governados são ilusórios, quando o insurgir e a vontade popular deixam de ter eco, pondo em causa os princípios que serviram de fundamento à Democracia.
Mas como os interesses na sua diversidade se chocam, a corrida ao voto da legitimação passa a ser crucial, transformando o acto eleitoral numa pura farsa eleitoral.
Desta forma, a campanha eleitoral, o suporte que fundamenta a Democracia, deixa de ser a candidatura honesta de um programa de governo, para passar a ser, uma espécie de leilão, em que cada grupo de interesse faz os seus lances, sobrepondo as paradas do adversário, procurando ir ao encontro dos anseios das populações prometendo tudo a todos, mesmo sabendo de antemão que o que estão a prometer não exequível, lubridiando desta forma o princípio da convicção democrática do eleitorado
É a isto que eu chamo a ilusão democrática, ou mais concretamente a Democracia legitimar a tomada do poder por aqueles de quem ela nos devia proteger.
O que eu acabo de escrever pode parecer um exercício de exagero pragmático, mas em que Democracia, como a que é idealizada pela maioria das pessoas, é possível um país que vive uma crise nacional tão grande, obrigar maioria da população a fazer sacrifícios, tornando-a cada vez mais pobre, enquanto uma minoria fica cada vez mais rica?
Não estaremos em presença de um totalitarismo permitido pela Democracia?
E toda e qualquer forma de totalitarismo não restringe a Liberdade?
A Democracia, tal como se nos apresenta, e que pretende ser o estádio máximo civilizacional, não o é, quanto muito o mal menor, mas muito longe de ser o sistema perfeito de convivência entre os homens.
Outro sistema de governo ou outro tipo de Democracia terá de aparecer no futuro, ou o homem nunca deixará de ser um escravo da civilização, como é actualmente, onde a sua Liberdade não passa de uma utopia e o obriga a viver numa ilusão democrática.

domingo, junho 18, 2006

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Leonardo

“De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também divino, de modo que, através do seu espírito e da superioridade da sua inteligência, possamos atingir o Céu” Assim o descreveu o seu primeiro biógrafo, Giorgio Visari

Filho de um escrivão florentino e de uma aldeã, Leonardo de Vinci nasceu em 15/4/1452. Existem dúvidas quanto ao local do seu nascimento, contudo, o mais consentâneo, é o próprio lugar de Vinci, perto dos montes Albanos, entre Florença e Pisa.
Foi considerado um dos mais notáveis pintores do Renascimento e possivelmente o seu maior génio, pois além de pintor foi um excelente anatomista, engenheiro, matemático, naturista, arquitecto, inventor e escultor. Como artista conseguiu o reconhecimento e o prestígio das pessoas da sua época.
Os seus projectos e estudos ficaram, quase sempre, escondidos em cadernos de anotações, muitas vezes escritos em código, não estando ainda hoje todos estão decifrados.
Na adolescência estagiou na oficina de Andrea Verrocchio, um dos mais importantes artistas da época, em Florença.
Em 1482, quando concluía a sua primeira grande obra, a Adoração dos Reis Magos, foi convidado por Ludovico Sforza, para a sua magnífica corte em Milão, onde lhe encomendou a estátua equestre de seu pai. Viveu em Milão de 1482 a 1499 desempenhando as funções de escultor e engenheiro.



Foi em Milão que pintou a Última Ceia, considerada por muitos a sua obra prima.
Em 1499, quando Milão foi conquistada por Luís XII de França, Leonardo abandonou a cidade. Depois de uma curta permanência em Mântua até 1500, onde contou com a protecção da duquesa Isabella Gonzaga, seguiu para Florença onde trabalhou até 1506.
É nessa época que se pensa que pintou a sua mais emblemática obra, a Mona Lisa, chamada A Gioconda (quadro à direita). O quadro representa uma bela napolitana, com cerca de 25 anos de idade, a mulher do magistrado florentino Francesco del Giocondo, daí o nome Gioconda.
Em 1506, a convite do Marechal de Chaumont, braço direito do rei da França na Lombardia regressou a Milão. Mas em Setembro do mesmo ano regressou a Florença para resolver um problema de herança onde permaneceu até 1511.
Em 1512, Leonardo resolveu transferir-se para Roma, onde havia intenso movimento cultural. O Papa Leão X, um Médici seu grande admirador arranjou-lhe local adequado para trabalhar com os seus alunos.
Aparentemente favorável, o ambiente romano acabou se revelar adverso a Leonardo. Talvez devido aos seus estudos na tentativa de compreender os gases, mandar secar vísceras der animais e enchendo-as de ar com um fole de ferreiro, estudava-lhes o comportamento. Mas, além das suas experiências científicas serem mal interpretadas, uma geração mais jovem, que tinha como expoentes Michelangelo e Rafael, conquistava as preferências dos nobres. Não hesitou, portanto, em aceitar o convite de Francisco I, sucessor de Luís XII no trono da França, para morar em Cloux, perto de Ambroise, no castelo com que o soberano o presenteara.
Na França, Leonardo viveria os seus últimos dias.
Morreu a 2 de Maio de 1519, após receber os sacramentos da Igreja e, ao que consta, nos braços do rei Francisco I.
(O quadro à esquerda é conhecido como a Dama com Arminho) Em todos os lugares, onde quer que estivesse Leonardo reunia sempre uma pequena multidão em praças públicas, para expor as suas ideias de engenheiro, físico, pintor, escultor, filósofo e poeta. Ele sabia pender o público com anedotas espirituosas que inventava. Mais do que com anedotas, Leonardo deixava o público boquiaberto com os seus mirabolantes projectos de máquinas para fazer o homem voar, barcos capazes de navegar sob a água e infernais armas de guerra.
Leonardo foi um investigador de primeira ordem, dotado de um espírito incisivo e de um sentido crítico muito apurado. Queria aumentar os seus conhecimentos por meio das suas pesquisas e experiências pessoais, recusando subordinar-se ao ensino das chamadas autoridades. “Os que só estudam os velhos autores e ignoram a própria natureza não são filhos, mas enteados, dessa mesma natureza”, dizia ele. Com estas palavras exprimia uma concepção do mundo completamente nova.
Visari tinha toda a razão a respeito de Leonardo, só um homem verdadeiramente excepcional conseguiria abarcar tanto conhecimento.
Como físico enunciou princípios e procurou respostas.
“Nenhuma coisa se move por si mesma, mas o seu movimento é produzido por outros”
“Todo o movimento tem de ser mantido, ou seja, todo o corpo em movimento move-se enquanto conserva a impressão da potência do motor”
. Era a introdução à lei da Inércia.
Como anatomista, estudou mais anatomia do qualquer outra pessoa, demonstrando por meio de dissecação a estrutura dos músculos, nervos, veias e intestinos de corpos, tanto de homens como de mulheres e animais.
Pesquisou a estrutura dos ossos, representando em figuras o tórax, a bacia e a coluna vertebral.
Analisando o sistema urogenital, fez observações notáveis sobre a placenta, o cordão umbilical e nutrição letal.
Examinou ainda o sistema nervoso central e periférico, bem como os órgãos dos sentidos. Estudou o coração, concluindo que esse órgão é massa muscular alimentada por artérias, possuindo movimento como os outros músculos. Curioso foi ele não ter descoberto a função de bomba do coração.
A botânica também foi objecto dos seus estudos. Entre outras coisas estudou a influência do ar, da luz solar, do orvalho e dos sais da terra na vida das plantas.
A Química (muito rudimentar na época) também mereceu a atenção de Leonardo, que desenvolveu estudos sobre transformações das substâncias.
Atribuiu grande importância à aplicação da Matemática para expressar as leis físicas. “investigação alguma pode ser chamada de verdadeira ciência se não passar pelas demonstrações matemáticas”.
Na pintura utilizou a técnica artística da perspectiva, uso de cores próximas da realidade, figuras humanas perfeitas, temas religiosos, uso da matemática em cálculo artístico, imagens principais centralizadas, paisagens de fundo, figuras humanas com expressões de sentimento e detalhe artístico.
Principais invenções: máquina voadora, máquina escavadora, isqueiro, paraquedas e besta gigante com rodas.
Principais trabalhos científicos: homem vitruviano, anatomia do tronco, estudo do pé e perna, anatomia do olho, estudo da gravidez.
Projectos de arquitectura: projecto arquitectónico de uma cidade, projecto de um porto, templo centralizado.
Um aspecto curioso de grande parte dos seus documentos é ilustrarem que Leonardo era ambidestro, escrevendo tanto da esquerda para a direita como vice-versa.

sexta-feira, junho 09, 2006

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Os guardiões

Num lento movimento de rotação, a nave em forma de pião, gravitava em volta do planeta, deslizando num plano imaginário provocado pela ausência da gravidade.
Quando se encontrava em oposição à estrela que iluminava o planeta, a penumbra que este projectava tornava-a imperceptível, no todo da escuridão
Quando se encontrava em conjunção a luz estrelar transformava-a num objecto tão transparente que a sua imagem se diluía no firmamento.
Seja qual fosse a sua posição não podia ser avistada a olho nu do planeta, e a sua massa totalmente desconhecida, tornava-a completamente indetectável por qualquer aparelho.
Suspensa no seu tempo, era imensurável em outro qualquer, razão pela qual a duração da sua permanência não podia ser quantificada.
Quem a tripulava, tão inimaginável mesmo pela mente mais ousada, era como se não existisse, sendo a sua presença só sentida no éter da consciência.
A aproximação de uma segunda nave, igualmente em forma de pião, trocou a pacatez do quotidiano pela azafama da manobra de acoplagem, unindo-se as duas naves pela parte mais estreita, como se um pião fosse o reflexo do outro no plano da translação.
Diversos tripulantes da nave recém chegada passaram para a primeira. Eram os seres aos quais caberiam as decisões que iriam tomadas na nave. Seres para quem o tempo fora do seu não tinha significado, deslocavam-se num fluxo sem descontinuidade, formando com os tripulantes que os esperavam um todo indivisível, uma só mente, onde o gesto e a fala, grosseiras formas de comunicação eram substituídas, pelo fluir do pensamento.
Na comunicação que utiliza só o pensamento, não existem nem perguntas nem respostas, mas só constatações e são essas constatações que vão ser apreciadas por eles.
A unidade do pensamento leva a que este seja igual para todos os intervenientes, o conhecimento individual passa a ser colectivo, sem que para isso houve necessidade de transmissão.
Um pensamento ordenou: Comecem o relatório, e o pensamento colectivo funcionou como um único ecrã onde as imagens começaram a desfilar.

Um planeta escuro avermelhado, recém-formado, onde são visíveis os efeitos das convulsões geológicas e vulcânicas. A aridez é completa e total inexistência de condições de "vida".
O planeta envolvido em densas nuvens formadas por vapor de água proveniente da evaporação provocada pela sua alta temperatura.
O planeta que já arrefeceu deu origem à formação de lagos, mares e oceanos.
O planeta recebe uma chuva de poeiras espaciais portadoras de microrganismos que se vão depositar na água, e esta por sua vez, torna-se no caldo primordial da existência.
Os microrganismos desenvolvem-se em aminoácidos e estes em proteínas, estas em protobiontes e estes evoluem para células.
Seres unicelulares evoluem para pluricelulares, e estes dão origem a seres marinhos.
A escassez de caldo primordial obriga a parte dos seres a saírem do meio aquoso para o terrestre.
As plantas começam a desenvolver-se e gigantescas florestas cobrem o planeta.
A fotossíntese transforma a atmosfera de redutora em oxidante propiciando a respiração aeróbica.
Aparecimento dos primeiros seres aeróbicos
Os primeiros animais terrestres, répteis e depois os mamíferos.
Dos mamíferos evoluem os primatas e estes dão origem aos hominídeos.
Os hominídeos desenvolvem-se até serem humanos.
Os humanos começam a desenvolver técnicas.
As técnicas quanto mais evoluídas mais alimentam o lado MAU dos humanos.
O lado MAU vai ganhando terreno ao lado BOM até o egoísmo dominar por completo os humanos.
Os humanos, completamente dominados pelo egoísmo, começam a destruírem-se uns aos outros, e a destruir o próprio planeta.
A sua não extinção depende somente do grau de evolução da técnica.
A técnica aponta como única saída para evitar a extinção, a fuga para o espaço.

Por momentos o pensamento ficou vazio e as imagens desapareceram. O grupo dissociou-se em dois, um composto pelos tripulantes da nave e outro pelos visitantes.
Podem sair, queremos ficar sós. Foi o pensamento ordenador dos visitantes aos tripulantes da nave.
Após a saída dos tripulantes, o grupo foi trespassado pelo pensamento colectivo de que tinham encontrado o que procuravam. O MAL. Tinha-se libertado na Galáxia, mas não sabiam onde ele se encontrava. Agora tinham a certeza de que ele se instalara neste planeta quando da chuva de poeiras espaciais, usando os microrganismos, as sementes da vida do planeta, como seu hospedeiro.
Após nova pausa no pensamento, possivelmente o mais importante dos visitantes, fez trespassar para o grupo o pensamento de que se estes seres emigrassem e se disseminassem na galáxia, transportariam o MAL com eles, seria o fim do BEM e a destruição anunciada da própria galáxia. Um pensamento de concordância foi comum a todo o grupo.
Nova pausa, esta mais demorada. Depois num pensamento simultâneo, a decisão foi tomada. E as imagens da destruição do planeta, transformado em poeira cósmica, foram perceptíveis por todos.
Mas como se um curto-circuito tivesse ocorrido, as imagens coma mesma rapidez que apareceram, assim desapareceram, para darem lugar a uma imagem de criação cósmica que enquanto perdurava, um pensamento apelava para sua condição de Guardiões do BEM, que como tal não podiam destruir, só preservar o BEM.
Diversos pensamentos se inter chocaram, na ânsia da sua manifestação, acabando por prevalecer as imagens dos humanos, no futuro, a destruírem progressivamente a galáxia para satisfazerem o seu egoísmo.
Um pensamento mais ousado, talvez do mais jovem, sobrepôs-se às imagens de destruição da galáxia, questionando que se o BEM só praticar o BEM, será irremediavelmente destruído pelo MAL. Alguma coisa teria de ser alterada.
A ausência de resposta esvaziou por momentos o pensamento, até que a solução o repovoou de novo. Se Arquimedes fizesse parte do grupo, o pensamento seria Eureka, assim ele limitou-se a trespassar sem emoção o grupo com a solução achada. Que fiquem prisioneiros daquilo que fizerem, que se destruam uns aos outros, que destruam o seu meio de vida e o próprio planeta, que o seu egoísmo acabe por os varrer da superfície da Terra, que nós trataremos de os impedir de abandonar o planeta, para que o MAL nunca possa sair daqui e desapareça com eles para sempre.

sábado, junho 03, 2006

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Será a fé inabalável?

A crença e a fé são abstracções, às quais está sempre subjacente algo que as consubstanciam proveniente do nosso imaginário.
É no pressuposto da formulação dessa substância induzida pela imaginação que se alicerça a pré disposição para a aceitação de verdades irrefutáveis, não construídas pela razão, mas por esse imaginário que reveste a substância dos paliativos necessários, indispensáveis à nossa subjectividade, pelo que a crença e a fé, não são provenientes da razão, mas da aceitação de uma suposta realidade, ditada pela nossa imaginação.
A imaginação dessa substância é condicionada pelo desejo do que se quer que ela seja, resultando o credo e a fé no que se imagina e não no que ela é realmente. A nossa imaginação cria os pressupostos, que para nós são os mais consentâneos, para a formulação dessa imaginada realidade, sem os quais não terá sentido, refutada até.
Por exemplo se associarmos o bem ao belo, só podemos admitir que pessoas belas poderão praticar o bem, ficando as feias inimagináveis de o fazer.
O condicionamento da aceitação da convicção da crença e da fé, é uma manifestação do nosso egoísmo, como pré estabelecendo uma reciprocidade entre o objecto delas, e nós próprios.
Que aconteceria se os crentes fossem confrontados com uma realidade diferente da que imaginaram, para aquilo em crêem? Continuariam a crer? Estou certo de que muitos dificilmente o fariam, pois o que dava substância a sua crença já não existia, não proporcionando por isso a reciprocidade.
A crença e a fé em Jesus, como paladino da bondade, foi consubstanciada na imagem humana de que dele fizeram passar, predicando-a com o nosso conceito do belo, como só o belo tivesse a capacidade para a praticar, discriminando a ausência da beleza como esta tivesse conectada com a maldade.
Porquê Ele teria de ser um homem bonito, pele branca, olhos azuis insinuando bondade, cabelo longo e louro, faces finas e tranquilas, barba aparada, lábios bem torneados, nariz de fino recorte, sobrancelhas aparadas, tendo no seu conjunto um leve toque de beleza feminina?
A mentira de que esta imagem está impregnada, esta conexão do belo com a bondade e a fealdade com o mal, é a prova de quanto é precária a crença e a fé dos homens.
Um Hebreu no tempo em que Jesus viveu, nunca poderia ter feições europeias, sobretudo de traços nórdicos, mas sim completamente diferente, e mesmo belo, essa beleza seria de difícil percepção pelos ocidentais.
Estudos recentes, na tentativa de saber qual o aspecto físico de Jesus, têm chegado a resultados completamente opostos ás concepções impostas até hoje, mostrando-nos a possibilidade de um homem, com as características físicas dos homens da sua época.
Feio, buçal, pele escura, olhos escuros, cabelo negro e curto, barba escura cobrindo-lhe toda a cara, baixo e entroncado.
Foi um choque para o mundo religioso a apresentação do retrato robot dos cientistas, como sendo um sacrilégio apresentar um espécime humano, tão incompatível com os padrões de beleza para Jesus estabelecidos pela Igreja.
A verdade ou a mentira desta hipótese, ainda está por receber o veredicto da ciência, contudo no campo das hipóteses é tão válida como a que estabeleceram.
A temporização da espiritualidade que a Igreja faz, ao impor padrões de beleza e estética à crença e à fé, tem como objectivo a divinização, substituir o Homem entre os homens por um ser mais endeusado do que humanizado, onde a incompreensão é substituída pelo mistério e o dogma torna a sua aceitação inquestionável, e este aceite numa questão de fé.

Termino o meu texto com a pergunta. Se a hipótese dos cientistas prevalecer sobre a da Igreja, a vossa fé continua inabalável?